domingo, 29 de maio de 2011

Mônica

    

            Artur acelerou o passo para atravessar a rua enquanto os carros buzinavam incessantemente naquele lindo dia de sol e calor, mas talvez para ele o dia continuasse belo mesmo com chuvas e trovoadas. Em seus 15 anos de idade viu sua vida tornar-se um conto digno de cinema onde o impossível lhe sorriu. Sobre o passeio pousava e levantava os pés com a leveza de um pássaro e alegria infantil. “Dá pra acreditar? Logo eu? E tenho apenas 15 anos. Não! Semana que vem farei 16, Já quase posso votar, sou homem afinal”.
            Com o que sonha um garoto na efervescência adolescente? Garotas é claro! Mas não qualquer garota, não essas ingênuas em demasia. Ele deseja experiência, pois já é vivido o bastante, então o melhor para um homem como ele é encontrar uma mulher mais velha. Claro! E quem seria? Sim, sua professora, aquele fruto proibido balançando seu vestido negro em curvas capazes de hipnotizá-lo. A mesma professora com grandes olhos castanhos e lábios vermelhos e grossos. E seus cabelos? Oh, tão sedosos, tão deliciosamente perfumados. Aquela mulher é a própria perfeição, uma obra divina, sem dúvida, quem mais faria algo assim senão Deus? Durante o caminho de casa somente o nome de sua professora saia de sua boca: Mônica, Mônica, Mônica.
            Ao entrar em casa estava sozinho. Tanto Melhor! Ele pôde ficar sozinho com seus pensamentos, sonhos e desejos. Sim, aquela professora a qual todo aluno suspirava havia pousado os olhos nos seus e ele sabe o que isso significa: Amor, amor, amor. Dane-se o fato de ela ser mais velha, para o amor não existe idade. Mas um raio lhe atinge a mente e o faz lembrar-se de um pequeno detalhe: Amanda, sua namorada.
            O que Artur deveria fazer? Como seu coração deveria agir? Continuar com sua namorada ingênua, sem graça e contida, ou aquele dragão incendiário de lábios ardentes e sorriso devastador? A disputa parecia desleal. Era hora de conversar com Amanda.
            Durante o caminho de casa de Amanda, Artur trouxe à mente a memória do que o fez cair apaixonado por Mônica. – Agora já não havia a professora e somente Mônica. Era a última aula de sexta-feira e sua professora de português, Olga, havia caído de cama, e outra veio lhe substituir. Todos os garotos a sala fizeram silêncio quando a professora entrou e desfilou sua beleza até o quadro negro.
-- Boa noite, eu me chamo...
            Artur não ouviu mais nada, nem ao menos ela se apresentar. Um amigo ao lado disse um nome: Mônica. Que lindo nome. Foi amor a primeira vista. Ao final da aula a professora despediu-se de todos e deu um leve piscar de olhos para Artur. Era o necessário, ela caiu lambendo a própria sombra enquanto aquela deusa desaparecia pelo corredor. Antes de sair ainda disse: “Vejo você na próxima aula.” O que é isso? Eu mereço tanto?
            Ao tocar a campainha da casa nº 170, sua namorada veio abrir o portão e lhe deu um beijo, porém, ele parecia de gelo. Frio e com o olhar distante, apenas disse:
-- Precisamos conversar.
            Amanda sentiu que era sério, fechou o portão e juntos caminharam até uma pracinha, distante duas quadras. Amanda não é feia, ao contrário, com 14 anos, é linda, cabelos dourados, seus olhos azuis e pele rósea lhe dão um ar angelical. E esse é justamente o problema!  Artur não precisa de alguém assim, ele precisa do fogo, o amor caliente daquela bela mulher de cabelos castanhos e compridos. Ele voltou-se para Amanda e disse:
-- Não quero mais namorar com você.
            Aquilo foi um choque. Amanda não esperava. Não o Artur, não ele! Ele não seria capaz disso. Mas foi. Após dizer-lhe isso, virou-se e foi embora sem olhar para trás. Amanda caiu de joelhos, pois Artur era seu grande amor, a quem unicamente se mostrou por inteiro. Era seu grande amor que ia embora...
            Durante a semana Artur seguiu a professora Mônica. Ela disse que o veria na próxima aula, mas demoraria demais e ele queria vê-la. Tinha necessidade disso. Finalmente descobriu onde ela mora e a observou através da janela de seu quarto, enquanto se escondia atrás de uma árvore. Delirou ao vê-la, por descuido, despir-se com a cortina aberta. Seria descuido ou ela sabia que era observada?
            Chegada sexta-feira veio a última aula. Mônica entrou e cumprimentou a todos. Era óbvio que ela disfarçava, afinal, somente tinha olhos para ele e ele para ela. Ao final da aula, ele foi falar com ela.
-- Oi, professora. Foi muito bom conhecê-la, digo, você vir nos dar aula.
-- Oh, muito obrigada! Uma pena que essa tenha sido nossa última. A professora Olga retorna na semana que vem.
            Não! Não pode ser. Mônica não virá mais para minha sala? Não, isso não! Aquela professora Olga... Ela deveria ficar em sua casa... Mas, espere! Ela disse: “Uma pena.” Ela já tem saudades minhas. Isso é o que eu precisava ouvir para ter certeza.
            Artur seguiu-a até sua casa e quando ela abriu o portão, ele surgiu com um grande sorriso e uma caixa de bombons.
-- Oi, professora.
-- Hã, oi, Artur. O que você está fazendo aqui?
-- Vim trazer-lhe isto como prova de meu amor por você.
-- Do que você está falando? Eu sou sua professora.
-- Não, você é mais! É o amor da minha vida e sei que também sente isso.
-- Não, Artur! Você entendeu errado. E, além disso, eu já tenho um namorado.
            O coração de Artur se partiu. Pedaço por pedaço foi ao chão juntamente com os bombons e seu sorriso. Ela não podia enganá-lo. Não ela! A mulher mais linda que ele já viu em sua vida. Ele sabia que aquilo não era verdade, mas tinha de ter certeza.
-- Mas professora Mônica, eu...
-- Artur, meu nome não é Mônica.
-- Não? – O que? Outra mentira? – Então qual é?
-- Eu me chamo... AAAAAHHHHHH!
            O grito de dor foi ouvido ao longe. O corpo perfeito da professora caiu já sem vida e ao seu lado juntou-se seu sangue que escorria aos pés de Artur. Atrás do corpo sem vida de sua amada professora, Artur pôde ver Amanda, que empunhava uma faca ensanguentada e seus olhos pareciam possuídos:
-- Se você não ficar comigo, não ficará com mais ninguém!



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