segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Minha bicicleta




            Mateus corria sem olhar para trás. Seu coração batia tão acelerado que parecia desequilibrá-lo. Às suas costas pesava-lhe sua mochila, mas ele não se importava. Ele não via à hora de chegar a casa, afinal, era seu aniversário. Nesse dia ele completava 12 anos de idade.
            O menino conhecia bem sua situação. Sua família era pobre, seu pai trabalhava duro para sustentar a casa e o que sobrava quase não dava para nada. Mas ele tinha um sonho, ele queria uma bicicleta. Enquanto ia para casa ele observava as outras crianças com suas bicicletas vermelhas, amarelas, azuis e roxas, e pensou: “Amanhã serei eu!” Ele queria ir para a escola, mostrar a todos o seu presente, o presente que seu pai havia prometido. Já fazia um ano desde seu último aniversário, e seu pai havia lhe dito: ”Filho, no ano que vem eu prometo te dar uma bicicleta no seu aniversário.”
            O dia finalmente havia chegado. Era, então, o seu grande dia. Mateus entrou em sua casa pela cozinha onde sua mãe preparava o jantar. Na sala sua irmã assistia TV. Então ele diz.
- Mãe! Mãe?
- O que foi meu filho? Por que essa gritaria?
- Mãe? Cadê o pai?
- No quarto. Por quê?
- Eu quero falar com ele. Hoje é meu aniversário!
- O que?
            E Mateus foi sem dizer mais nada. Sua mãe até tentou segurá-lo, mas em vão. O menino entrou no quarto.
- Pai! Pai!
            Seu pai não responde, apenas olha para ele. Seus olhos estão fundos, sem vida. Ele nem mesmo sorri.
- pai?
- O que foi filho?
- O senhor sabe que dia é hoje?
- Sei. Por quê?
- Por quê? Hoje é meu aniversário e o senhor prometeu me dar uma bicicleta. Lembra?
            Seu pai olha para ele e em seguida desce os olhos. De trás do menino sua mãe lhe fala:
- Por que está dizendo isso, meu filho?
- Dizendo o que? Hoje é meu aniversário e o papai prometeu. Ele prometeu!
- Mateus. – sua mãe continuou. – Seu aniversário é amanhã. Você está enganado.
- Não.
            Mateus foi até a cozinha e lá estava o calendário, preso atrás da porta. Sua mãe estava certa. Ele voltou ao quarto, triste e envergonhado. Seu pai pediu que se sentasse.
- Filho, eu tenho algo a dizer.
- Diga, pai.
- Filho, eu sei que amanhã será seu aniversário, e também sei o que te prometi, mas tenho algo a te dizer.
- O que, pai?
- Nossa situação não tem sido fácil. Sua mãe está desempregada e está muito difícil para eu manter a casa sozinho.
Seu pai o abraçou forte e continuou.
- Filho, me perdoe, mas eu não poderei te dar sua bicicleta.
- O que?
            Mateus não aceitou e saiu correndo. Ele foi para os fundos do quintal e ficou ali até que todas as estrelas estivessem no céu. Seu pai foi falar com ele, mas ele não quis dormir. Ele queria a bicicleta, queria muito. Seu pai havia prometido. Mateus sabia que a situação de sua família estava difícil, mas seu pai havia prometido.
            No dia seguinte ele foi para a escola. Não tinha novidades a contar, e também não queria estudar. Ficou ali, quieto, desenhando no caderno, até que sua professora perguntou:
- Mateus? O que há com você? Está tão triste.
- Não tenho nada.
- Como nada? Você está triste.
- É que hoje é meu aniversário.
- E por que está triste? Hoje é um dia para ficar alegre.
- Mas meu pai me prometeu uma bicicleta e não me deu.
- E por isso está triste?
- Sim. Meu pai prometeu, mas não me deu.
- E por que não?
- Ele disse que as coisas estão difíceis, que minha mãe está desempregada, e que está difícil manter a casa.
- Então?Você não vê?
- Vejo o que?
- Eu acredito que seu pai está triste também. Talvez até mais do que você. Prometer uma coisa e não poder cumprir é doloroso. Eu acredito que se seu pai o pudesse compraria a bicicleta. E acredito também que ele te ama. Do contrário, não teria te dito a verdade. Não teria dito nada.
- Eu sei. Mas eu queria tanto.
- Não tem problema. Haverá outros aniversários. E quando ele puder, tenho certeza que ele comprará sua sonhada bicicleta.
- Você jura?
-Claro!
            E Mateus finalmente sorriu. No caminho de casa ele foi pensado no que a professora havia dito. Ele também entendeu que estava errado, que não podia fazer o que fez ao se esconder nos fundos do quintal. Ele não podia tratar seu pai daquela maneira. E ele foi correndo para casa.
            Ao chegar, sua mãe estava colocando sobre a mesa um bolo que ela mesma havia feito. Tinha cobertura de chocolate e granulados que caíam do lado. Havia refrigerante e alguns poucos docinhos. Ele sorriu. Mesmo com a situação difícil, sua mãe ainda pode lhe fazer um bolo. Ele tinha uma festa, afinal. Mas alguém estava faltando. Ali estavam sua mãe e sua irmã. Ele então perguntou
- Mãe? Cadê o pai?
- Ele saiu, mas já já ele volta.
Nisso bateram na porta, e sua mãe disse:
- Mateus, estão batendo. Vá atender, por favor.
            Mateus foi. Ao abrir a porta suas mãos tremeram e seu queixo caiu. Um sorriso se fez de orelha a orelha. Era seu pai e com ele uma bicicleta azul, da cor do céu. Seu pai lhe sorriu e disse:
- Feliz aniversário, meu filho.

2 comentários:

  1. Parabéns João a história é muito boa e me chamou atenção, continue estingando seus leitores pois você tem muito talento, e que venha a próxima!!!

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  2. Obrigado, Adriele.Eu sempre tento fazer algo de bom, e saber que tem gente que gosta é muito legal...

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