O ato de escrever em si já é completo. Passar apara o papel ideias abstratas que nos fazem sentido e trazem alguma satisfação é tão magistral quanto ter assistido, em pé e com aplausos, a um gol de Pelé. Faz-nos sentir especiais, quase deuses em nossos pequenos mundos, onde criamos e destruímos, e também damos nossa opinião, nossa visão dos fatos. Estamos lá, vemos, sentimos, abstrativamos, escrevemos. Está no papel É a verdade.
Mas quis o destino que Deus nos deu mostrar a mim outras faces do escrever, pois deste fino ato, quase como um escrevinhador de contos dos tempos antigos, sinto-me impelido a relatar as coisas a minha volta, e que tenho certeza que, talvez um dia, quem sabe, voltarei a lê-las, minhas memórias no papel e entender por que fiz certas coisas. Por que pensava assim, ou assado.
Assado me lembra algo quente, e não sei por que, numa dessas loucas co-relações que conjeturam nossas cabeças sem prévia permissão, lembrei-me da última semana. O sol ardia forte, poderoso, como se quisesse dizer: “Eu sou teu deus, ajoelhem-se perante mim”. Claro que não me ajoelhei e em um acesso de fúria banal, ele ardia cada vez mais forte. E sucedeu que, em um desses momentos loucos, eu voltava de um casamento em um cartório civil e fui visitar um amigo, contar-lhe as novas. Chegando lá, entrei e sentei no confortável sofá da sala. O calor ainda castigava, mas lá dentro estava ameno. Talvez o sol tivesse saído para almoçar. O fato é que o calor já não atrapalhava, e nossa conversa fluiu como águas de um rio calmo e sereno. Súbito, a radióla que estava ligada na cozinha – e me espanta ver uma dessas hoje em dia – e não se fazia ouvir, deu a notícia: “Apucaranense morre em Londrina”. A notícia, de momento, não mexeu comigo, apenas mudamos o foco da conversa, mas essa continuou.
Incrível como fatos assim já não nos comovem. Um assassinato, um crime. Teve o mesmo impacto em nós caso fosse uma receita de bolo. Eu gosto de bolo. Bolo de fubá. Igualzinho ao que minha mãe fazia quando eu morava com ela. Agora que estou casado vou pouco à sua casa, tenho muitas responsabilidades. O trabalho, os estudos, esposa, filha. Mas o que me traz ao papel é uma terrível dúvida: “Por que escrever?” Talvez seja por orgulho, vocação, ou um dom que Deus me deu. Espero.
E foi naquele sábado de sol e calor, onde pessoas morreram e outras nasceram - algumas de novo – que foi que percebi que cada dia é único, que não há um dia igual ao outro e por isso devemos correr atas de nossos sonhos, mesmo que pareçam distantes. Mesmo que pareçam impossíveis. Por que no sábado o sol brilhava poderoso, radiante, imperador do céu, mas o domingo amanheceu chuvoso e frio, comigo encolhido no sofá, assistindo televisão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário