Marcos está feliz. Seu corpo está leve e o sorriso nos lábios denuncia seus sentimentos. Ele está apaixonado e enquanto pedala sua bicicleta azul por entre carros e pedestres, ele pensa na namorada, Márcia. Márcia não é como as outras garotas, ela é inteligente, bonita e muito alegre. Ao contrário de Marcos, Márcia já namorou antes, mas eles tiveram uma briga séria e ele foi embora da cidade, morar com os avós. Nunca mais se viram. “Pior para ele”, pensou.
Seus sentimentos e sua bicicleta o levaram até a casa de Murilo, seu amigo desde o berçário. Tudo o que acontece com um, o outro invariavelmente fica sabendo. Certas vezes isso é motivo de alegria, outras, de tristeza. Desta vez, é motivo de felicidade, pois Murilo sempre ouviu o quanto o amigo a amava, o quanto a achava bonita. Eles conversaram a tarde toda, até que Marcos viu que era hora de ir. Subiu na bicicleta azul e foi para casa. Durante a noite seus sonhos foram agradáveis, sempre com a presença de Márcia.
Pela manhã, Marcos levantou-se, tomou banho, escovou os dentes e foi para a escola. Chegou alguns minutos antes apenas para esperar a namorada. E lá estava ela, linda com seus cabelos dourados e pele branca como leite. Seus olhos eram como pedras preciosas, sem valor calculável. O dia ficou perfeito quando ela passou os braços por detrás de seu pescoço e beijou-o.
- Que tal irmos para minha casa depois da aula? Assim poderemos ficar sozinhos.
- Mas e seu pai?
- Não se preocupe, ele volta do emprego tarde da noite.
O pai de Márcia, Moacir, era viúvo. Sua esposa morrera vítima de câncer e, após isso, ele se enclausurrara dentro de si. Ele apenas se dedicava ao trabalho e à filha. Não tinha amigos, não tinha mais ninguém.
Marcos não conteve a euforia e correu ter com Murilo. O amigo também ficou contente, mas pediu que esperasse que fosse conversar com ele no intervalo do recreio.
- Diga Murilo. O que você queria me dizer?
Murilo olhou rapidamente para a direita e para a esquerda e puxou o amigo pelo braço até os fundos do colégio, onde não tinha mais ninguém.
- O que foi Murilo? Fale!
Murilo olhou em seus olhos. Sua voz estava falhando.
- É sobre Márcia.
- O que há com ela?
- Eu fiquei sabendo que o último namorado dela sumiu. Ninguém mais o viu!
- É que ele foi embora morar com os avós.
- Não é o que eu ouvi. – Murilo estava visivelmente nervoso. – Ele não tinha avós, então não tinha para onde ir. Seus pais procuraram por ele, quando não o encontraram, foram embora.
Marcos não podia acreditar. O que Murilo queria dizer? Será que?
- O que você está querendo dizer com isso, Murilo? - A voz de Marcos estava áspera.
- Eu acho que a Márcia matou seu ex-namorado!
- Não! – Marcos gritou. -- Não pode ser! Ela não seria capaz, ela é tão doce, tão linda, tão... tão...
Um pensamento passou pela cabeça de Marcos.
- Já entendi.
- O quê? – Perguntou Murilo.
- Você não quer que eu vá para a casa dela. Não quer que eu fique com ela! Você gosta dela, não é? Diga!
- Não!
- Mentiroso!
Marcos estava transtornado. Sua voz era como a de um animal acuado.
- Não fale mais comigo, Murilo. Nunca mais! Você não é mais meu amigo!
Marcos foi para casa. Pedalou até chegar lá e tomou banho. Passou também o perfume de seu pai, pois queria ficar bonito para a namorada. Depois disso voltou para a escola e a esperou. De longe pôde ver Murilo, triste ir embora. Deu de ombros.
- Oi, amor! – era Márcia, que o abraçou e despediu-se de suas amigas.
Marcos entrou na casa de Márcia, uma casa grande, paredes brancas e móveis novos. Ele sentou-se no sofá.
- Espere aqui que eu vou tomar um banho. -- Disse ela.
- Sim. – A voz de Marcos falhou.
Enquanto a namorada se dirigia ao banho, ele observou o lugar. Entrou no quarto de Márcia e viu uma cama repleta de bichos de pelúcia, um roupeiro branco e um computador. “Quarto de menina” pensou. Ao lado do computador viu uma foto de rosto de Márcia e pensou no amigo. Seria verdade? Não, impossível. Márcia é tão linda, tão doce. Impossível!
- O que você está fazendo ai?
Era a voz de Márcia. Marcos não notou o tempo passar. Ela estava enrolada com a toalha e ele olhou a parte descoberta de suas pernas. Ela notou e sorriu.
- Deixe-me vestir minhas roupas.
- Sim!
Ele voltou à sala. A voz do amigo ecoava forte em sua cabeça. Seria verdade? Ele tinha de descobrir. Ela saiu do quarto vestindo uma calça preta e uma blusa de mesma cor. Seus cabelos molhados se misturavam à pele de seus ombros como se fosse um. Foi a visão mais incrível de seus quinze anos. Mas ele ainda tinha de saber. Ela abraçou-o e beijou-o, mas ele empurrou-a e falou:
- Posso fazer uma pergunta?
- Sim.
- Seu ex-namorado?
- O que tem ele?
- É que eu ouvi uma história. Fiquei curioso.
- Ah. -- Ela beijou-o novamente. – Não se importe, não há história alguma.
Enquanto falava, ela levantou sua camisa, deixando-o seminu.
- E seu pai? Ele só volta à noite, não é?
- Na verdade, ele está bem atrás de você.
- O quê?
Ele não viu o pai de Márcia acertá-lo com um taco de beisebol, fazendo-o desmaiar. Marcos acordou pouco depois.
- Hã? Onde estou?
- Você está na minha casa, querido. – Ele reconheceu a voz de Márcia, mas sua visão estava embaçada.
- O que é isso? O que significa isso?
Marcos recuperou a visão. Ele estava deitado, amarrado sobre a mesa da cozinha, totalmente nu. Márcia deslizou sua língua quente e úmida sobre seu tronco, mas ele estava desesperado demais para gostar daquilo.
- O que é isso? Solte-me! Eu preciso ir para casa!
- Nós já o soltaremos, espere.
- O que você vai fazer? Marcos estava desesperado. Em sua cabeça sabia que deveria ter ouvido o amigo.
- Sabe Marcos? Eu não ia lhe dizer nada, mas como você me perguntou há pouco, eu vou lhe contar o que houve com meu ex-namorado.
A voz de Márcia não era como antes, não era como a de uma menina de quinze anos, estava diferente. Parecia possuída.
- Michel, meu ex-namorado. – Ela continuou. – Ele não foi embora. Na verdade, ele nunca saiu daqui.
- O que houve com ele?
- Digamos que papai e eu tenhamos um gosto alimentar diferente, meio adocicado, diria.
- Não! – Marcos estremeceu. – Vocês o devoraram?!
- Parece meio óbvio, não é?
Márcia sorriu.
Logo depois, Moacir, o pai de Márcia, entrou na cozinha empunhando uma faca de açougueiro. Ele sorria.
- O que você vai fazer com isso? -- Perguntou Marcos, desesperado.
- Ora, querido. – disse Márcia. – tente adivinhar.
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