O mundo todo viu quando ele surgiu e rasgou os céus com extrema velocidade, para logo após abruptamente... parar. Era uma nave como antes nunca se viu e que pairou no céu azul e limpo daquela manhã fria de inverno. Os transeuntes amontoavam-se uns sobre os outros na tentativa de vê-la, fotografá-la. Não havia medo, de algum modo todos sabiam que algo extraordinário estava para acontecer. Sabiam que era a história acontecendo. Sem qualquer aviso, a nave girou em seu próprio eixo, uma forte luz se fez que obliterou o sol e ela partiu tão rápido quanto chegou. Sem deixar vestígios. As pessoas se perguntavam se aquilo seria uma nave espacial alienígena ou algum tipo de ilusão em massa.
Aqueles que estavam frente à TV viram minutos depois a mesma nave cruzar os céus da capital federal e parar sobre a sede do governo. E lá permaneceu durante três dias inteiros. Sem se mover, sem produzir som ou luz. Apenas pairou imóvel, a poucos metros do chão. A essa altura, todos os governos do mundo enviaram seus exércitos, inimigos declararam guerra aberta, acusando nações rivais de serem responsáveis por aquilo. Talvez fosse algum tipo de arma de destruição em massa. Se fosse, talvez os repórteres e câmeras de TV, ou mesmo policiais, bombeiros e cidadãos comuns não teriam visto o que aconteceu no final do 3º dia.
A nave finalmente se abriu. Ao abrir-se, as pessoas puderam ouvir um som semelhante aos de água se chocando contra rochas em uma cachoeira. Ele saiu. Milhares de armas estavam apontadas para o homem de roupas brancas delineadas ao corpo, com faixas douradas nos pés e mãos. Seu olhar era calmo, pacifico. Alguns o julgaram ser alienígena, outros, Deus. Ele levantou sua mão direita e com um leve gesto no vazio trouxe para si todas as armas ali presentes. Cada policial, cada soldado teve sua arma tomada, que flutuava livremente até se aproximar do visitante desconhecido e repousar aos seus pés. Todos temeram o pior, quem seria capaz disso: “É um alienígena, com certeza!” Ele abriu a boca, sua voz era como um trovão, forte e estrondosa, mas serena como águas paradas.
– Não se preocupem, não vim lhes fazer mal algum.
O que é isso? Todos ficaram maravilhados, o viajante desconhecido podia falar a língua local, mas era mais que isso, cada pessoa entendia na sua própria língua. Assim todos os povos do mundo, através de suas TVs, puderam ouvir o que ele tinha para dizer.
– Povos de toda a Terra, eu venho em missão de paz. Mas não uma paz qualquer, e sim a paz para esse planeta, que já não suporta os desastres, nem suas reservas se esgotarem. Este mundo precisa se recuperar e para isso precisamos de sua ajuda.
“Precisamos?”, a multidão se perguntava. Neste momento, várias outras naves iguais surgiram no céu, milhares delas, era impossível não notá-las. Até mesmo o sol se escondeu atrás delas. Aquele que falava ao povo e às câmeras parecia o líder, e tornou a falar:
– Enganam-se os que pensam que somos de outro planeta. Somos deste mundo, nós – ele fez um gesto, mostrando todas as outras naves. – todos nós somos. Porém viemos do futuro, de onde sua sede de riqueza, suas doenças quase acabaram com o planeta. Ele agora já quase não resiste, por isso trouxemos uma mensagem a vocês.
– Viemos lhes mostrar o que suas ações fizeram com o planeta. Vocês não pensaram no amanhã, pensaram apenas no hoje e agora seus netos pagam por seus erros. Eu não venho de tão perto, venho de 300 anos no futuro, onde o homem tornou-se seu próprio demônio, seu próprio algoz.
Novamente as imagens surgem no céu, mas agora são imagens do tempo presente. O líder apenas diz: “Contaremos a vocês como chegamos até aqui.”
O século XXI foi excelente, novas tecnologias, avanços na ciência, no campo pessoal e espiritual. O homem evoluiu ao ponto de desejar igualar-se a Deus. E o homem criou vida. Chamaram-no de “Homem do amanhã”, porém, este era frágil e pouco viveu. Mas algo terrível aconteceu, por sua estrutura diferenciada este homem contraiu várias doenças que o levaram a morte, ao final liberou um vírus tão poderoso que acabou com um continente inteiro. Essa doença ficou conhecida como “SMI”. Nós a conhecemos como Síndrome da Morte Instantânea.
Ao passo que a doença se espalhou, o terror tomou conta de todos. Voos internacionais foram proibidos, contatos comerciais, tudo foi proibido por medo dessa doença se espalhar pelo globo. Nesse mundo entrincheirado, apenas uma coisa tinha valor: água.
Países inteiros sucumbiram à seca, à falta de alimentos. Não havia mais como sobreviver. Nesse ínterim, uma nação emergente do século XXI criou algo que não podíamos imaginar. Eles destruíram sua chamada internet e criaram o que batizaram de Interlife, uma rede viva de computadores ligados em todo o globo através de satélites e bases espalhadas antes do flagelo mundial. Se a SMI já era terrível, agora ficou ainda pior. A Interlife passou a controlar todo o globo e após isso fugiu do controle de seus próprios criadores, tornando-se o único carcereiro de um planeta-prisão.
Devido aos acontecimentos, um grupo de cientistas usou voluntários como meus companheiros e eu, desenvolvendo nossas habilidades, adicionando partes robóticas e cérebros eletrônicos, fazendo-nos resistentes à SMI. Em nossos cérebros processamos milhares de Peta bytes de informação, até que, com a ajuda de uma das inúmeras teorias surgidas no século XX, conseguimos cruzar o espaço-tempo, ao que vocês chamam de viagem no tempo. No futuro soubemos que nossos problemas surgiam neste século, e então decidimos exterminar esse problema desde o começo. Trouxemos em nossas naves dispositivos capazes de purificar o planeta, tornando-o capaz de se reestruturar sozinho.
Assim que o visitante do tempo terminou de falar, todo o planeta regozijou. Era afinal, o fim dos problemas, da falta de água, de alimentos. Alguns levantaram teorias sobre o fim das guerras e da violência. Nos meses que se seguiram – em que os viajantes do tempo necessitaram para montar seu dispositivo – alguns cientistas até mesmo comemoraram a possibilidade de se prolongar a vida humana.
Ao final de um ano, a máquina estava pronta. O planeta todo parou para vê-la funcionar, vê-la fazer o que nunca conseguiriam: “Purificar o planeta”. Após uma solenidade, o líder dos viajantes do tempo acionou a máquina.
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Última anotação virtual. 31 de dezembro de 20xx.
Eu, Ulisses, líder dos viajantes espaço-temporais, comemoro junto de meus companheiros nossa grande vitória. Durante séculos o planeta sofreu impotente às mais diversas desgraças e tudo devido ao homem. Mas esse fazia impulsionado por sua ganância e por seu ódio. Hoje, porém, trouxemos a paz que o planta necessitava. Colocamos cada homem lado a lado por um mundo melhor. Sei que demorará, mas o planeta irá se recuperar. Talvez venham outros depois de nós.
Sabemos o que isso significa para nós mesmos, que viemos do futuro, mas meus companheiros e eu, juntamente de todos aqueles que sofreram aquilo que o futuro nos deu antes de sair para essa arriscada missão, sabemos que era necessário. Nossa máquina finalmente trouxe ao planeta o que ele realmente necessitava a extinção de suas doenças, de todo o mal que o assolava. Hoje acabamos com o verdadeiro culpado por todos esses males. Hoje acabamos com a raça humana.
Que Deus nos perdoe...
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